Procurando Elly

janeiro 1, 2010

por Janaina Pereira

Os cineastas iranianos sempre encontraram no cinema uma forma de expor suas opiniões sobre a política do país. Asghar Farhadi preferiu mostrar com sutileza o regime autoritário que encarcera as mulheres do Irã. Em Procurando Elly, em cartaz a partir de hoje, o diretor – vencedor do Urso de Prata em Berlim em 2009 – faz um filme de suspense de altíssima qualidade, deixando os espectadores tensos em seus 119 minutos de exibição.

A história já começa bem diferente do que se espera de uma produção iraniana. Oito pessoas se reunem para uma viagem de final de semana e o clima é de pura alegria. Jovens, modernos e simpáticos, seis deles são casais com filhos. Ahmad, o solteiro do grupo, acabou de se divorciar e voltou ao Irã depois de anos vivendo na Alemanha. Sua amiga Sepideh, que organizou a viagem, convida também a professora de sua filha, Elly, sem avisar o grupo.

Sepideh e os outros tentam unir Elly a Ahmad. Ela, entretanto, aparenta não estar à vontade e planeja ir embora no dia seguinte. Após os protestos de Sepideh para que passe mais alguns dias, Elly se vê obrigada a ficar. No entanto, um acidente acontece e ela desaparece.

O sumiço da jovem é o estopim para uma reviravolta nos relacionamentos do grupo. Sem saber de fato o que aconteceu, a desarmonia se instala e os conflitos são inevitáveis. Uma rede de mentiras é criada e a medida que tentam resolver a situação, tudo piora.

Ao mesmo tempo que o grupo procura por Elly, acabam descobrindo mais sobre a jovem. E o desespero da busca é muito bem narrado na trama, com direito a diálogos ásperos e interpretações viscerais do elenco. A direção também é precisa: a câmera de Farhadi, inquieta, nervosa e muito menos contemplativa do que normalmente se vê no cinema iraniano, é fundamental para promover a tensão da história.

As cenas feitas no mar, de impressionante realismo, causam mal estar e sofrimento, pois a câmera acompanha tão de perto que parece que somos parte integrante do filme. Farhadi faz com que não só seus personagens, mas o público também procure por Elly.

E, de quebra, nas entrelinhas, ainda há um discurso sobre o modo autoritário como as mulheres são tratadas no Irã. Ao descobrirmos algumas coisas sobre Elly, é mostrado como a mulher iraniana não tem vontade própria e ainda precisa passar por situações hostis.

Procurando Elly é um filme de roteiro simples, que consegue se destacar pela habilidosa forma como sua narrativa foi feita. Reparem nos detalhes de cada personagem, em suas reações e na forma como se comportam. É a tensão humana que dá o tom do filme, levando Farhadi ao exercício máximo que uma direção preciosa pode ter em um grande trabalho cinematográfico.

O longa mostra do que o ser humano é capaz quando chega ao seu limite – e este limite é testado em Elly e nos demais personagens. É tenso, intenso e cheio de fortes emoções.

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