Justin Bieber: Never Say Never

fevereiro 23, 2011

Por Pedro Costa de Biasi

O diretor Jon Chu sabe sobre o que está falando em Justin Bieber: Never Say Never. Sua abordagem para o fenômeno pop, não apenas o particular, dá sinais de conhecimento considerável sobre o funcionamento dessa indústria. O filme é tendencioso para muitos aspectos do astro mirim, mas pouco fala sobre as próprias canções. É um documentário apreciável com ou sem conversão ao Bieberismo.

A bem da verdade, esse talvez seja o máximo de incerteza que um produto propagandístico sobre uma estrela de sucesso estrondoso poderia carregar. Um dos entrevistados menciona uma comparação com Michael Jackson e sua infância perdida, quando diz que Bieber não quer que o mesmo lhe aconteça. Surpreendentemente, não há uma resposta acalentadora: o assunto muda abruptamente, como um “sem comentários”.

Não são poucas as passagens que aprofundam essa dúvida, uma vez que o filme é bastante detalhado sobre a faceta familiar do astro. Isto significa ter um cameramen atrás dele em diversos momentos e lugares, acompanhando-o no reencontro com os avós e nos passeios com amigos de infância. Ele pode manter suas relações, mas elas não escapam do registro sistemático feito para alimentar os fãs.

Outro detalhe curioso foi adicionado pelo editor  Jay Cassidy. Para os que não conhecem a carreira do cantor (como eu) e não sabem se a apresentação no Madison Square Garden deu certo, a montagem encontra uma saída interessante. Os números musicais estão espalhados pelo documentário, não deixando dúvida sobre se Bieber correspondeu às cobranças de tamanho feito. Em outras palavras, é óbvio que tudo deu certo, porque precisa dar certo. Entrar nesse sistema é sujeitar-se a suas engrenagens.

Chu dá bons exemplos para indicar que o garoto é um dos representantes mais significativos de seu nicho. Segundo as fontes, esse ápice meteórico, com a adição específica do show no Garden, estava entre seus planos para a carreira. Que ele de fato alcance a façanha é menos continuação da pieguice “não-desista-do-seu-sonho” e mais uma assombrosa – e até assustadora – amostra do poder do mecanismo pop.

Como peça publicitária, o filme não pode se esquivar de erros óbvios. Abordar a paixão doentia que assola muitas fãs era obrigatório, e o resultado fica no arrastado meio-termo entre o carinhoso e o levemente satírico. Mais gritante é a “tradição” de escolher uma menina da plateia para cantar-lhe no palco, que soa como uma mentira consagrada e aparece no filme como uma demonstração de amor do cantor pela(s) fã(s).

No entanto, até nessas breguices existem padrões reconhecíveis. A serenata no meio do show ou o diálogo sofrível para a violinista na frente do cinema têm em comum uma figura, em iguais partes real e ficcional, que compõe o astro Justin Bieber. Embora a segunda cena citada passe a impressão de fingimento, aquele modo de vida demanda muito teatro, dando a entender que muito do que vemos no documentário é uma farsa real. Afinal, o próprio cantor posou para fazer piada de seu cabelo.

Se, por um lado, Justin Bieber: Never Say Never só é interessante por discorrer sobre a indústria pop, ele só é tão interessante quanto a indústria pop permite.